Quando a gente foi
tomar café para nos conhecermos melhor naquele domingo de manhã, pensei que o
que seus olhos transmitiam era a verdade em estar ali me observando. Que te
fazia bem ouvir minha voz e o meu discurso feminista independente que afirmava
que eu conseguiria ficar sem te ver por muito tempo. Era a mais pura inverdade
que consegui lançar só para não mostrar que na real eu voaria no seu pescoço e
te beijaria facilmente.
Daí logo em seguida, depois da troca das centenas de
mensagens ao longo da semana em que você dava a entender que se preocupava
comigo, comecei a pensar que a gente poderia dar certo.
Naquela vez em que nos encontramos sábado à noite, antes do
toró que molhou meu sapato azul camurça, imaginava que as minhas aspirações
faziam alguma diferença para você, que sentado à minha frente, comia
desesperado um lanche mas mesmo assim fazia cara de quem estava entendendo tudo
o que se passava comigo.
Te mandei mensagens no celular feito adolescente, e em todas
elas obtive as respostas que desejei. Foi
aí que escolhi acreditar que eu era a pessoa em que você pensava antes
de dormir, da mesma forma como você era para mim. Achei que estava me enganando
e me iludindo em doses homeopáticas. E quem nunca fez isso um dia quando garoto
ou garota e repediu na vida adulta?
Fiquei mega feliz ao ver que suas mensagens inbox do Face
chegavam para mim mesmo de madrugada,
provavelmente depois que você chegava da casa dela e ia tomar um banho para ver
se te lavava a culpa em ter saído com uma e alimentado a esperança de outra.
Daí eu pensei que estávamos juntos, porque eu fazia um
esforço danado para casar a minha agenda com a sua para te levar à estreia de
um filme nacional que dispensei minhas amigas e pus você no lugar delas. Foi
bom, eu sei. Tão melhor ainda foi perceber que nunca mais priorizo a sua pessoa
entre as minhas amizades.
Pensei de novo que você tava a fim de mim quando conseguiu me
encontrar antes da cervejada com os seus amigos. Só quando você foi embora
saquei que se você me quisesse mesmo me levaria junto. Daí eu acordei e resolvi
não mais insistir que você fosse correr comigo sábado de manhã, como nos
acostumamos nos últimos seis meses.
Daí eu entendi que entre nós só rolou carinho e
cordialidade. Doeu até aceitar totalmente a ideia de que não éramos o que tinha
pensado. Então eu me enganei de novo
pela enésima vez e sentei no sofá para continuar escrevendo outros capítulos sem
pé nem cabeça da minha vida em que em um deles você foi co-autor de um desfecho
mequetrefe.