sentimentos não são recicláveis como simples garrafas
Num relacionamento, tanto o homem quanto a mulher, sem que
eles queiram, vão pisar na bola de um jeito ou de outro. Ou deixando de passear
aos domingos- o que faziam quando solteiros- para assistir ao futebol na TV, ou até mesmo a mulher que depois de décadas de casada não prioriza
mais o visual e toma para sí mais refrigerante e alguns quilos.
Parceiros, namorados, casos e conjugues desapontam
mutuamente. O mais interessante nisso tudo é perceber que a
chave para que a história dos dois dure bastante é, geralmente, a parcimônia em
acreditar que o outro pode como um futuro
mais que imperfeito mudar um
pouquinho e se adequar aos nossos caprichos.
Sujeitar-se cegamente as expectativas de uma pessoa é um
dos piores equívocos que um ser humano autoconfiante consegue
cometer. E mesmo que isso aconteça frequentemente, o que salva a nossa pele são
as nossas virtudes de inconstância e leviandades temporárias que justificam
nossos deslizes.
Já quando essas decepções rolam no meio de uma amizade de
longa data, as consequências podem durar anos e quem sabe até refletir pela vida
inteira. Numa ideia metaforicamente lúdica, o tempo que uma garrafa demora para se
decompor, pode ser a média de tempo
que levamos para reconquistar nossa confiança na vida de alguém que
consideramos depois de uma decepção dolorosa. Sem contar que leva o dobro do
tempo.
Para entender melhor, faça um teste ao amassar uma delas.
Ela ainda continuará útil, mas com marcas e arranhões. A sensibilidade e particularidade de um amigo
fiel daqueles que te dá além da roupa do corpo é a mesma coisa. Ele pode até te
encarar, mas com certeza não será mais uma relação bilateral de certeza e
intimidade.
Algumas pessoas que conheço perderam vínculos de convivência
maravilhosos porque não foram sinceras, agradáveis e recíprocas enquanto
puderam. Elas poderiam não levar o título de pessoas que jogam "lenha na
fogueira", mas optaram pelo receio da sinceridade e desabafaram os podres para
quem não teve nada a ver com a história.
Muitas delas depois
de longos períodos ainda queixam-se de não dormirem direito por causa
do remorso. Outras, após conversas
intermináveis, causticantes e ressentidas,
dificilmente reconquistam o respeito porque o elo de carinho e
consideração foi quebrado num momento de fúria passageira.
Por mais que se intitulem incontáveis pedidos de perdão
protocolados no cartório divino, veiculados por reflexões e orações que duraram
uma madrugada inteira, apagar a desilusão do coração de um deles é tarefa de
autoridades celestiais, e olhe lá. Confiança e apreço ao contrário do frasco de
plástico, definitivamente não são recicláveis.
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