domingo, 16 de maio de 2010

É ela

- Jair, boa noite?
-Boa noite Jair, é a Kathia, tudo bom? Posso confirmar a sua presença na coletiva de imprensa amanha às 9, pode ser?
-Sim, claro. A matéria é para quantos portais?
-Três e mais uma nota pro Link, caderno de tecnologia.
-Ok, até amanhã.

Depois de atender a secretária, Jair tomou o último gole de café, pegou o casaco e saiu triste pela porta da agência de notícias. Faltava-lhe algo. Alguma coisa que não atendia por nome de saideira, x-burguer do bar do Athaíde, ou doses de Engov. Era ela. Joice, dos lábios carnudos, do vestido preto de costas nuas e sombra escura nos olhos verdes. Ele, como ela, também tinha um pseudônimo que usava nas horas vagas. Só que o dele, ao contrário do dela, não dava lucro. Servia para assinar as crônicas que escrevia e que nunca publicara por falta de coragem. Era sem dúvida, um jornalista frustrado.

Além da falta de talento literário, Jay teve o azar de se apaixonar pela prostituta mais cara da avenida Indianópolis. Joice, a morena que só atendia programa completo estava cansada do mesmo cliente que toda noite de serviço, pedia para que acariciasse os cabelos grisalhos e dormisse de conchinha. A transa de três vezes por semana agora era apenas uma. Não porque Jair estava zerado, mas porque Joice tinha pressa. Não fazia mais questão dos 500 reais de lucro que lhe rendia aquele encontro.

Depois da primeira gozada, a jovem de 19 anos descia a saia, arrumava o decote e despedia-se. Estava insatisfeita, aflita e começando a gostar do paulistano quarentão. Por isso, após quitar as contas da última quinzena, decidiu não se culpar pelo que sentia e atendeu os telefonemas de Jair, que até então, passava as noites numa tarefa sexual solitária.

Voltaram a se ver. Desta vez, na casa dela. Na sala, onde havia um sofá, uma estante e a tv, Jair lia para Joice suas tentativas de romantismo. A maioria deles terminavam com a idéia de que o amor pode ser tão impossível como o relacionamento deles. Ela dormiu. Ele de novo, apelou para a tarefa sexual. Não queria acordá-la, tinha a sensação de que desta vez, Joice era finalmente sua.

Pediu ela em namoro. Ela disse que sim, e começou a economizar para comprar um guarda - roupa. Ele, bem mais econômico que ela ,levava marmita para redação e tomou a decisão de, até pagar o apartamento, não passar mais no bar do Athaíde. Jair liquidou as parcelas do imóvel. Ela fez outra prestação, agora, de um fogão. Tinha projetos de vida de não mais literalmente, “dar pra viver”.

Mas naquela noite de maio, meio fria, lá no apartamento de Jair, Joice fazia as malas. Jair abriu a porta e, quando viu, ficou estático. Ela o olhou, ressentiu, fechou o zíper da bolsa e disse: obrigada, mas preciso de mais espaço para minha vida. Joice não quis contatos intensos, por isso, ao sair, beijou-lhe o rosto e deixou a impressão de ser como muitas delas; estritamente profissionais.

2 comentários:

Adriana Otero disse...

Boaaa "tarefa sexual solitária."
rsrs.

Andreia Hiromi disse...

E no fim da verdade essa é o q mts mulheres são:estritamente profissionais.