sexta-feira, 19 de abril de 2013

Amor em metáforas


Amor não suplica. Amor implica. Resulta em longas etapas de parcimônia, benignidade, e pureza vividas entre dois interessados. Amar não é cargo vitalício. É vaga temporária. Para preenchê-la e mantê-la é preciso perseverança, solicitude, determinação. A criatividade para entreter o outro precisar ser constante.  Criar motivos para ouvir a pessoa, mesmo que até de madrugada, depois do  programa do Jô Soares, de preferência.

Ser ouvido e tolerado também é bom. Banho e cafés da manhã demorados precisam fazer parte da receita do envolvimento. Sem se preocupar com a conta que vai chegar depois, porque provavelmente ele vai te ajudar a pagar. Vai te ajudar a apagar os conflitos internos com um corretivo bem particular assim como o timbre de voz dele, único e sinfônico que te alarma aos domingos.



 

Amar é criar artifícios constantes para ser notado. Um exercício quase diário. Se não conseguir por muito tempo, considere-se um empreendedor que recindiu o contrato com o fornecedor por falta de verba. Para alavancar os negócios apostam boa parte das suas ações em uma nova tendência de mercado. Se o retorno não foi com o desejado, desfazem parcerias e encerram a conta na Bovespa do sentimento. Deveríamos aprender a empreender melhor nossas emoções.

Imagina se eles lamuriassem pelo rombo que a concorrência fez no capital deles.  Por isso jogam as redes em outras baias, caçam novos colaboradores e não muito depois, puxam o anzol com bons resultados.  Acho que o Eike Batista ama bem pra caramba. Ele demitiu funcionários depois da queda das ações, caiu 93 posições, mas continua entre os mais ricos do mundo. Eike não deixou de valorizar-se. Todo mundo deveria fazer isso também.




Do mesmo jeito que fruta madura depois que cai do pé, amor tem prazo de validade. Alguns romances perduram a barreira da distância entre cidades e continentes vizinhos. Outros tentam cruzar oceanos, se perdem no mar das emoções alheias mas não chegam no destino desejado.Amar é andar de mãos dadas no escuro esperando tropeços e escorregões. Vale acreditar que quando isso acontecer ele estará ao lado para cair junto na lama.
 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Recado atravessado

Ei, garota mais nova e pele mais clara que acabou de tirar o aparelho e sorri infantilmente nas fotos do Facebook da vida. Vai lá e diz para ele que eu, ao contrario de você, fiquei esperando ele ligar naquele sábado a noite e me chamar para uma pizza do fim a qual você com certeza foi no meu lugar.


Quando o encontrá-lo depois do expediente, porque é mais fácil você do que eu que fui trocada por uma faxina em plena sexta, diz para ele que eu gostaria de conhecê-lo melhor assim como você, garota que abusou do batom vermelho e deve ter conhecido antes de mim o que os lábios interessantes do rapaz bom de papo tinham para me falar e me fazer sentir.




Você mesmo, jovem de nome meio esquisito - não sei se Damiana, Deisiane ou Daniela- cabelo tingido e de bom corte, que numa hora dessas já ganhou o espaço de destinatária das mensagens românticas que ele me mandava no meio da tarde. Vai lá e diz para ele que você teve sorte de ter conhecido um rapaz com quase 30, solteiro, sem filhos, e com um carisma surpreendente.

Avisa aquele paulistano de gosto refinado, que usa perfume caro e amadeirado, aquele que nunca mais esqueço o aroma que me fez perder a concentração naquela reunião religiosa que fomos juntos. Fala que a partir daquela noite acreditei que ele estava na minha e que eu estava me dando bem no jogo da conquista, pois marcamos uma corrida no Ibirapuera no domingo pela manhã e deu tudo certo.

Liga para ele e reforça a ideia de que eu sabia que ele não queria me ver naquele feriado, depois de ter dado a desculpa que teria que frequentar a convenção da empresa por quatro dias, lá no interior de Minas. Foi justo no dia que ele mesmo já tinha combinado que faria um trabalho altruísta comigo. Deve ter sido você o evento mais importante daquele fim de semana assim como eu fui no fim do verão. Explica que quando ele começou a frase com a palavra “Então...” eu já saquei que ele não queria ir. Pode acabar falando que naquela altura da relação eu só não tive a humildade de aceitar que eu não era mais prioridade.



Quando ele te levar para o mesmo restaurante que me levou num almoço de outono, comenta que eu já entendi que no dia que ele usou a desculpa do rodízio para não atravessar a cidade para me ver, foi porque te encontraria no metrô e te levaria para uma exposição Cult na av. Paulista, a mesma que eu já tinha visitado com ele antes. Diga que doeu para caramba ter visto você, menina baixinha de aparência meiga, colocar na página principal daquela rede social uma foto meio plano de um casal no parque, simulando que você e ele estão numa boa.

Faz assim, passa lá na casa dele, leva um vinho tinto e conversem sobre a mulher inteligentíssima que sou, porque ainda não morri, a não ser de amor por ele. Deita com ele no sofá, conversem sobre cultura, política e os filhos que talvez você tenha com ele. Não muda de canal no meio jogo do Santos só pra ver a chamada do jornal da Cultura. Ele fica possesso e perde toda a graça. Contorna a situação, faz um cafuné, faz um charminho feminino, mas não esquece de falar que quando o conheci naquela noite, não consegui pregar os olhos para dormir, de tanta felicidade.



Manda um email pelo menos e diz que lá no fundo, eu fico feliz por ele ter te conhecido. Que no momento você tem mais a ver com as fanfarrices dele, quando ele se mostra mais infantil ao lado de uma mulher mais nova e despreocupada como você deve parecer. Ele é gente fina, bem disposto e bem humorado. Você já deve ter percebido.

Espero que dê certo por um tempo, porque dificilmente uma garota vai fissurá-lo como a Mariela, uma ex dele que com certeza não saiu daquele coração. Ah, avisa que quando ele me ligar eu não atenderei porque apaguei o número dele. Mas pode dizer que ainda posso falar com ele via Skype sobre os projetos paralelos da carreira dele. Faz um favor, some o mais rápido possível porque eu vou voltar.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Quando eles choram

e o que sentem os homens em segundo plano


Uma boa seleção de músicas de David Bowie, meia panela de brigadeiro caseiro e uma comédia romântica de TV a cabo fazem parte de um kit melancolia muito comum entre as adolescentes. Mas e quando a fossa vem do lado oposto, e justamente causada por nós, donas da progesterona incutida no DNA feminino?

Boa parte das garotas da minha idade sabe do que digo. Momentos de tristeza profunda e sensação de ser a última bolacha do pacote acontecem até com as mais populares de um grupo. Nos tornamos indisponíveis e com "cara de nada" diante do museu da arte sacra que massacrou nosso coração. E sabemos, uma hora ou outra, que demos a volta por cima.

Gastei um tempo a mais  para entender a reação dos homens ao levarem um fora. Alguns não aceitam na boa e partem para cima da jovem mais vulnerável para ver se impressionam aquele primeiro alvo. Ao me ver, estes conseguem deixar o sonho de conquistar aquela moça cada vez mais longe.

Chega ser extremamente infantil quem se presta ao trabalho de colocar essas melancias podres no pescoço. O que era para ser a saga da caça ao tesouro vira um uma brincadeira de esconde-esconde ao inverso. Ganha aquela que conseguir ficar mais tempo off da vida do cara e manter a integridade sentimental mais longe ainda.

                               

Há os que se apoderam do Don Juan ismo nos momentos de tristeza. Eles refletem, remoem, encafifam pela postura que tiveram mas não desanimam de tentar. Faz parte do universo masculino ir à caça das avulsas bem resolvidas, nem que para isso demore algumas semanas.

Os mais emotivos até choram. E quando isso acontece já perceberam que é hora de mudar o foco das suas energias interiores. Geralmente procuram alternativas práticas de liberarem seus hormônios sem qualquer forma de consentimento. Optam pela partida de pôquer, dama ou algo que lhes traga mais adrenalina. Não querem curtir a solidão num quarto como elas.

Ligam para os amigos e marcam o futebol do domingo. Os da geração Wii reúnem os amigos para os campeonatos ou partidas no Winning Eleven. Não importa a versão. O que vale é a distração para driblar a não aceitação.

Olham para as mulheres na rua mas nenhuma os chama a atenção. Preferem observar, quando dá, e sem cobiça. São, como a natureza os quis, práticos e objetivos até para resolverem assuntos tão subjetivos como esses. Muito justo, eu diria. Tratam do coração assim como opera o sistema binário dentro de um computador; analíticos, sucintos e diretos.

Ainda é interessante saber daqueles que se apaixonam de verdade e projetam a felicidade sem tratar das evidências. Um perigo, mas rola. Um amigo meu apaixonado por outro rapaz na época insistia em me dizer que a relação deles amadureceria com o tempo. Ele ao certo não via que o rapaz não levava as coisas tão a sério quanto ele.




O assunto dos nosso encontros sempre era o Deco. Meu amigo fez este cara o centro das atenções dele durante uns 6 meses. Demorou para ele sacar que o Deco só queria amizade. Doeu para caramba. É difícil aceitar que a doação de carinho que fizemos não foi aceita. Eles, ao contrário de nós parte imediatamente para outra para ver no que dá.

Um outro amigo resolveu gostar da moçinha do grupo de jovens da Igreja. Ela mostrou-se interessada em algo a mais que amizade e foi assim que ele entendeu. Ela floreou, jogo a isca e ele foi pegando ao longo das conversas e mensagens românticas que recebeu no celular. De repente ela avisa que acabou de sair de um relacionamento e que não quer se envolver. E aí, o que fazer com uma menina dessas?

Teve uma atitude de ninfa, daquela que seduz e pula fora só para deixar o interessado mais louco ainda. Meu amigo se sentiu atiçado e ludibriado. Ainda não desistiu de conquistá-la por inteiro. Mas antes da atitude predatória da sua espécie chorou bastante. Poucas vezes vi uma garota mexer tanto assim com um coração de testosterona. Me alivia pensar que de um jeito ou de outro eles também são feitos de açúcar.