segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Verdades tardias


e a sinceridade infeliz

Errar é humano e cometer o mesmo erro duas vezes passa de burrice. Costumo chamar até de teimosia ignorante absurda no grau 5,  que para a medicina representa o estado crítico de alguma doença.

E por falar em ciência e mazela, se algum psquiatra ler este texto vai mensurar que além de um grande arrependimento, o autor sofre do que ele próprio intitula de consciência retardada, ou seja, cair na real do fato depois de ter bagunçado o coreto de muitos corações cheios de sentimentos.

É comum do ser humano olhar primeiro para sí e realizar o que der na telha sem pensar no próximo.
Quem fala sobre isso com conhecimento de causa é o apóstolo Paulo. Transparente, ríspido e cristão, o mensageiro descreve em suas dissertações que o bem que quer fazer não o faz, e o mal que não quer esse o acaba por fazer.

Infelizmente dependendo de quem for o seu próximo, isso pode lhe custar a confiança e a consideração de uma amizade de mais de uma década, por exemplo. O que pela rotina demorou anos para se construir e cultivar, desaparece em segundos de fúria e egoismo.




 Por mais que não haja o intuito de ferir alguém, o princípio ativo da ação foi a raiz de individualismo que resultou no conflito. E se nem o ditado popular sobrevive bem com as águas passadas que não movem os moinhos, que dirá quem recebeu o desprezo e a traição. Por certo não confiará como antes e nada do que faça para reverter a situação compensará o estrago.

Considerações e elos de apreço por uma pessoa devem ser mantidos na redoma mais sublime da nossa essência e junto ao nosso caráter. Acreditar no coração, na maioria das vezes, pode dar errado porque como diz em Provérbios, ele é enganoso.


Mas arrepender-se não é para qualquer um. É para quem sonha em reconstruir  uma fraternidade depois de um terremoto deveras turbulento. E que o recomeço não faça mais parte do vocabulário dos retardados conscientes.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ele não está a fim de você

Ela estava na lanchonete quando resolveu ligar. Rodrigo atendeu e já foi cobrado por ela. Por que não a telefonou na quinta, sexta e no final de semana. Para Michele, nenhum compromisso é tão importante quanto uma ligação.

De sombra azul turquesa, rímel forte e muita apetite, a mulata robusta, de tanta raiva, não sabia se devorava o sanduíche ou o celular. Enquanto isso, Rodrigo, por telefone, acabava de entrar num inquérito com direito a plateia.

Ele tinha ido à igreja, ensaiou com o coral, e não lembrou de dar atenção para a morena impaciente. Deu a desculpa que o cachorro estava doente, que foi levar a avó ao hospital depois do compromisso sacro mas não teve coragem de dizer que não estava mais a fim.

Também completou 28 anos em setembro. Deve ter feito uma festa. E daquelas com direito a café da manhã no dia seguinte. Chamou os vizinhos, os garotos do colegial, tios distantes mas Michele não estava na lista.



Ela não era especial para ele. Pode ser porque se conheceram numa dessas noites atordoadas em que os jovens saem à procura de não se sabe o que, e acordam ao lado das pessoas mais perdidas possíveis.

E a morena "Queen Latifa", de lábios salientes, rosados e cheios de catchup, demorou se dar conta de que perdia tempo com ressentimentos antiquados. Rodrigo disse que estava no trânsito, entraria num túnel e que a ligação iria cair.

 Michele ainda se pergunta o que há de errado com os homens.  Deve ser por que ela não saiba o que queria encontrar nele. E Rodrigo, como muitos, não soube responder a tempo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Renatos são anjos

 



Tivera  a sorte de conhecer dois Renatos. Cada qual épocas distintas e que a socorreu na hora certa. O primeiro deles e mais marcante foi naquele curso  de arquitetura e urbanismo, depois da faculdade de engenharia.

Com este aprendeu a dar valor nas mínimas coisas boas da vida. O sorvete calórico no fim da tarde e a pizza no final de semana. Enquanto ao lado dele os pontos da dieta só serviam para somar alegria e contentamento. Conversavam muito, brigavam quase nada e beijavam-se intensamente nos intervalos das aulas.
 
Elisa tinha a certeza de que não havia encontrado até a primavera de 2006 uma pessoa tão paciente e segura de si. O primeiro Renato, que logo se distanciou dela por motivos de idade e força maior, mostrou para a donzela que ela era capaz até do que ela nem imaginava.

Em 2012, numa atordoada quinta-feira de setembro, quando Elisa desapercebeu-se do volante e atropelou um veículo, um Renato também veio socorrê-la. Este assistiu tudo de longe e sem que ela o conhecesse, a justificou.
 
 

Elisa acredita em anjos. Não só aqueles que ficam pendurados nas árvores de Natal ou que fazem parte de um oratório cristão. Os que ela confia e percebe estão por toda a parte, quando a ajudam a sair de alguma enrascada ou lhe trazem presente silenciosos para a alma.

Este que tem por significado de nome serem renascidos, na opinião de Elisa, estão prontos para lhe ensinarem recomeço, justiça e amor  próprio. Vieram para cumprir uma missão terrena de proporcionar aos perdidos o caminho do equilíbrio espiritual.