quarta-feira, 27 de março de 2013

Evidências

 
 

 por que custamos em não aceitar o óbvio?

Fui para o dicionário ver a denotação de uma palavra que me confronta nos momentos de dores crônicas do ego. O sentido que me atraiu foi o da elevação. Quando uma relação não anda boa faz tempo, nem é preciso diálogo e questionamentos intermináveis. É só olhar em volta,  desacelerar o passo e ouvir os burbulhos do vulcão do ressentimento do companheiro ao lado.

 Entendi que não é preciso muito esforço para perceber o óbvio que muitas vezes custamos acreditar. Em uma amizade é comum a aproximação por uma comodidade. Alguém que tenha um tempo a mais para ouvir seus lamentos, conversar com seus fantasmas, te levar a um passeio ou te ajudar a empilhar os discos antigos que ganhou na infância, numa tarde chata de sábado. Você entende, retribui com o que sabe e imagina que na mente dele está tudo numa boa.

Eis o fatídico engano. A convivência é saudável, mas como todo investimento, uma amizade também traz riscos. E o primeiro deles é de ser mal interpretado. Embora haja verdade da sua parte, para o outro suas atitudes de uma hora para outra podem valer menos que 50 centavos. Triste, mas acontece. E procuramos entender onde foi que o outro fez a ideia errada do seu eu certo.

Todos, cada uma em uma medida e etapa distinta da vida, aprende a ouvir e ajudar o próximo. Alguns retribuem seu companheirismo mais rápido. Outros talvez nunca vão agradecer. E você segue quebrando um galho, rindo junto,  oras cedendo e se impondo. Acostumamos o amigo a sempre ter o nosso melhor e nos sentimos confortados quando ele nos acolhe.
O maior entrave é quando esse amigo do peito fez você se tornar possessão dele, ou uma espécie de propriedade exclusiva. Suas amizades antigas não são bem vistas e o que serve agora são os contatos e a história dele. Vive-se uma espécie de ostracismo  dois.
 
Tive uma experiência parecida quando comecei a frequentar novamente a casa de uma grande amiga que me conhece desde a infância. Sempre bem receptiva e pronta para ouvir e até dar roupas novas que nunca tinha usado. Em uma época passava o dia todo lá. Convivia de verdade. Conheci os pontos fracos e  sua austeridade.
Chegamos a participar de grupos religiosos no mesmo lugar. Ela me acolheu antes que caísse em uma depressão profunda. Saí desse universo melindroso sem a ajuda dos remédios. Agradeci muito a ela. Mas chegou um tempo que percebi que a tamanha proteção gerou um laço de moralismo e controle que era colocado em minhas faculdades mentais.
Após discussões dolorosas e dos vulcões em ebulição entre nós, fui concluindo que não valeria a pena depositar tanto tempo e disposição em uma relação doada, porém cobrada. É paradoxal rotular assim, mas faz sentido quando um das partes  publica seus defeitos e joga as latrinas existenciais no ventilador das redes sociais depois de um momento de insatisfação.
Procura-se repaginar atitudes por esta pessoa. Pensamos duas vezes e lembramos do passado dela dito por quem a conhecia antes. Evidenciamos através do discurso daquele circulo de amigos que agregamos. E então constatamos que a verdade em segundo plano, a dura realidade insana daquele amigo nunca deixou de existir.
Fato é que o prestígio desaparece e o desamor toma conta da cena em que a reciprocidade sem mágoas poderia habitar. Pensamos na angústia dele mas já não somos mais capazes de agir com tamanho altruísmo e deixamos o compasso da existência ditar o ritmo dessa relação.
 


segunda-feira, 11 de março de 2013

Silencioso barulho


e ausência do outro que nos incomoda



Vivemos sucumbidos de poluições sonoras diariamente. Desde que acordamos até o momento que chegamos em casa. Começa com o despertador ensurdecedor que, se não for assim, confundimos com canção de ninar e perdemos a hora, e termina com o som baixo, mas presente, do último noticiário na TV.


Para tentar escapar das exigências sociais da megalópole, fugimos para a praia deserta ou para a última colônia com chalés disponíveis da cidadezinha do interior. E nestes lugares não diferentes daqui, nos deparamos com o ruído de cada lugar.

Somos ensinados a procurar ambientes de paz, nem que para isso custe boa parte do salário para bancar esses momentos de serenidade. Conseguimos, temporariamente, desligar a mente das preocupações e mergulhar nas ofertas “zens” do mundo moderno.

Feito isso, voltamos para pegar no batente proletariado. Corremos mesmo sentados, pois a nossa mente viaja, questiona, constrói, reflete, desanima, desencana, sonha e prova que está em constante movimento. Pura ansiedade, claro.

Mas prefiro falar de um outro silêncio. Daquele que a pessoa que entrou na nossa vida agora é responsável. No começo de um relacionamento, uma amiga minha, muito ludibriada, atendia a todos os convites do tal pretendente.




Saiam quase todo final de semana e se falavam assiduamente. Trocaram elogios e poucas percepções carnais, o suficiente para que ela projetasse um compromisso sério. Penso que a garota confundiu cortesia com reciprocidade de afeto, muito comum entre as mulheres.

Muitas delas, na faixa dos 20 acreditam que o sinônimo de felicidade vem dentro de um terno, ou feito o conjunto de cuecas box em promoção. Amor é pacote fechado. Vem na medida e o outro aceita. Se for demais, não liga, dá meia volta e segue outro rumo.Dependência e insegurança é carga pesada para o parceiro. E quando o parceiro percebe, sai correndo com razão.

Ao longo da vida assistimos o casamento dos próprios pais e dos amigos mais próximos,  e somos ensinados a suprir necessidades emocionais do companheiro o tempo todo. Entretanto, na maior parte do tempo buscamos pessoas que nos somem. Um pouco egoísta, digamos. Mas é difícil agir diferente diante da tendência global que dita relações às vezes, a curto prazo, que nos fartem em tempo recorde.

Nem sempre quando ele a chama para um café quer dizer que é afim de você. Arnaldo Jabor expresso o drama em crônica. O jornalista Ivan Martins também relata a ilusão e expectativa frustrada de muitas garotas. É o que ele chama de distorção amorosa. Acontece. Estamos sujeitos a decepções.

O que incomoda minha amiga é sumiço repentino dele. Ela costuma se queixar dos “promotores” sentimentais da sua alma que tentam a todo momento a acusar de algo que ela fez ou deixou de falar. Acredito que é simples resolver esse antagonismo sentimental. É só somar atitudes e o próprio coração ajuda a perceber até onde podemos nos doar e sermos precebidos. Se no cálculo a estimativa não mostrar lucro, não vale a pena gastar tanta energia pensando em quem saiu pela porta dos fundos sem avisar.