segunda-feira, 11 de junho de 2012

As formas do não


e os diferentes tipos de pé na bunda

O fatídico 12 de junho não só aquece o varejo como também os corações apaixonados. Os motéis, chocolaterias e restaurantes engordam o faturamento com as ansiedades dos afoitos em presentear suas almas gêmeas.



Os shoppings então, nem se fala! Anunciam promoções absurdamente mesquinhas para o cliente cego de amor gastar R$200 em troca receber um par de canecas em formato de coração.


Que amar é uma delícia e ter um cobertor de orelhas é melhor ainda, disso  eu não discordo. E como vivem então os avulsos que degustam o “chicabom da solidão”, feito os solitários das crônicas do meu amigo jornalista boêmio Xico Sá?




Muitas vezes os “sozinhos e decididos” dão vazão ao vilão da conta bancária. Saem como loucos compulsivos e compram livros, sapatos e roupas que provavelmente nunca usarão. Consomem na tentativa de amenizar a solidão ou o absorver o impacto que receberam na região coccígea. No português claro, esquecer que levaram um pé na bunda.


Interessante é observar os diferentes tipos de fim de relações permanentes ou provisórias. Homens, práticos e objetivos, costumam dar o veredito por sms ou por recados pelas redes sociais. Quando muito habilidosos nas palavras, ligam para dizer que não estão mais a fim. E só.


É cruel, mas é bem menos sofrido do que a maioria das mulheres fazem. Marcam conversas dolorosas, e nelas ressuscitam momentos românticos homéricos cheios de saudosismo na tentativa de reaver as escolhas sentimentais para não cair na real do desdém.




Uma amiga, daquelas extremamente sensíveis e delicadas, respondeu o “eu te amo” do rapaz dizendo que ele também era muito simpático. Quer um fora mais gentil que esse?


Há os que ainda se telefonam num tom de conversa amigável. Falam sobre as distintas profissões, perguntam dos amigos em comum, porém despedem-se com “boa noite”. E geralmente não dura muito. É uma declaração implícita de desinteresse. O outro já não o aspira desejo nem saudade. Até o dia em que um deles hesita em atender.


Não ser mais a pessoa importante da vida de alguém de uma hora para outra, assusta. Fato é que nunca estamos preparados para isso. E para aliviar o impacto desse ponta pé, nada mais supremo que o amor próprio que gratifica e exalta o melhor da sua existência.




segunda-feira, 4 de junho de 2012

Te espero na saída



Graziela, durante a adolescência, suportou muito bem o “cabresto “ comportamental. Estudava muito para o vestibular, quase não assistia televisão, mal usava a internet e batia cartão nas reuniões de moços cristãos da vila Leopoldina.





Conhecia boa parte dos garotos sensatos e engomadinhos de gel no cabelo e de linguagem plácida. Todos integrantes de uma associação caridosa que distribuía roupa e comida aos carentes.


Com pelo menos um deles, Juvenal, o pai de Graziela, gostaria que ela firmasse casamento. Mesmo assim, a paulistana hesitava boa parte dos convites deles para um sorvete ou algo a mais.




Graziela,ainda muito jovem e temente à religiosidade que lhe foi dada como herança pela família catedrática, cometeu um dos crimes inafiançáveis ao conceitos paternos: envolveu-se com um moço da zona leste, ateu, mais velho e mais pobre que ela.

 E quando Juvenal nem dona Emiliana já não metiam o bedelho nas decisões emocionais dos 25 anos dela, isso lhe soou como liberdade. Conheceu Cesar numa reunião de amigos quando já estava na faculdade.



 Moça e não bulida, procurava aventuras libidinosas com o rapaz que estava disposto a ensinar as boas coisas da vida, entre elas, as carícias escondidas. Com ele viveu os maiores absurdos apaixonantes que uma mulher desejaria.




Ainda que fosse extremamente atencioso e pronto a ouvir as dúvidas de Graziela, Cesar não estava preocupado em frequentar as reuniões cristãs da qual a jovem de cabelos escuros e cacheados fazia parte. Pelas tardes de domingo, enquanto ela ia aos encontros religiosos, Cesar assistia aos jogos do Corinthians. Quando muito se fazia intelectual, lia títulos de Augusto Cury.




Jamais cedeu aos convites da para conscientizar-se da mesma fé. Tinha certeza de que ainda a amava, mas não o bastante para acompanhá-la porta à dentro. Revestia-se da espiritualidade oposta, mas não compartilhava das mesmas teorias de Graziela.