quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Muitos de ninguém

e ficamos cada vez mais sozinhos

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Reuniões semanais com o chefe, com o síndico no condomínio, as aulas de pilates e os almoços de domingo na casa da avó nos deixam com a sensação de que somos muito importantes. Exercemos em cada grupo um papel social diferente que traz a ideia de que nossa presença é sumariamente indispensável.

Podemos em parte representar a ausência de uma figura especial na vida de alguém. Ora como mãe, namorada, irmã mais velha, prima e dificilmente bem aceita em São Paulo, como vizinha gente fina que empresta uma xícara de açucar ou a caixa de fósforo.

 Homens, mulheres, casados e de relacionamentos indecisos estão rodeados por afazeres e tarefas dispendiosas que ditam a vida pública mais do que inútil às vezes; viver para todos e ao mesmo tempo sem um momento para sí.

Eles e as situações estão por toda a parte nos dizendo o que é melhor; como ganhar mais dinheiro, economizar para passar um tempo fora do país; educar as crianças manhosas de três anos, trocar o carro e quitar as parcelas do seguro; prevenir o diabeter e driblar a vontade estúpida de ingerir massas e doces.

Sentenciam, paulatinamente as dores, derrotas e êxitos do cotidiano e das oscilações do ego. Não perdoam deslizes e aplaudem conveniências. Participam com a gente dos melhores jantares de negócios, aliam-se nas causas de dúbio interesse e comemoram seu aniversário com bolo confeitado de padaria no seu setor de trabalho.

E quando as portas da apartamento se abrem, te lembram que depois das seis da tarde o vazio toma conta do estômago, do freezer, e da alma. O único barulho que se ouve é do relógio da cozinha  e da torneira que não foi fechada antes de pegar no sono.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Gosto, mas não ligo

a aversão dos homens pelo telefone

Aperte o botão "Like" do face a garota que já morreu de ansiedade e varou noite em claro esperando o bofe ligar. Ou ainda mendingou atenção pelas mensagens que ele não respondeu. Quem sofre desta vã expectativa é porque ainda não entendeu  a relação dos homens com o aparelho de autoria de Graham Bell.

Ivan Martins, colunista da Revista Época, escreveu esta semana sobre como eles observam os impulsos de desejo e sentimento. Fica quase clara em "Os rios dentro de nós" a dificuldade ou tranquilidade que o time da testosterona tem ao encarar o contato direto. Quando o cara está apaixonadíssimo, seus sentidos aguçam a procurar a garota e consumi-la em gênero, número e grau.

Pode ser que o resultado das noites enlouquecedoras de prazer. Seja um casinho ou relacionamento duradouro que envolva telefonemas, emails e mensagens ao longo do dia. Se isso for passageiro, resta o sentimento. Aquela sensação de apreço, carinho e saudade, mas que não motiva o parceiro a ligar e estar perto daquela mulher todos os dias.



Seja algo dado por Deus, a impressão que dá é que o coração deles parace ser dividido em gavetas, das quais guardam e dispensam cada impulso separadamente e com a maior parcimônia possivel.

Se você o impactou no primeiro encontro ou nas primórdias tardes a dois, tudo indica que ele fará do celular o segundo item que não esquecerá antes de sair de casa, depois de escovar os dentes, claro. Caso contrário, algo não deu tão certo e não cabe a você se martirizar se isso não rolar.

Há ainda aqueles que guardarão para sí as frágeis impressões do gênesis do caso afetivo e passarão um bom tempo sem manter contato realizando um estudo de caso isolado que envolva o próprio afeto e a postura dela. Fato é que eles não sentem a mesma necessidade que nós em despejar a vida pelo telefone.

Então nem é bom gastar as energias psiquicas para mensurar a imagem que você poderá ter na mente  e no coração dele. Deixe o tempo, maior aliado do amor, sentenciá-los.

domingo, 4 de novembro de 2012

Confiando no acaso



perdemos a chance de ver surpresas

Depois de uma terça feira cheia de relatórios e telefonemas dispendiosos, muitos de nós que procuram certas independências domésticas, sobrecarregamos a noite com tarefas árduas.

Passando as roupas sociais das reuniões demoradas, lavando as meias calças e organizando a fileira de cosméticos e fazendo as marmitas saudáveis do dia seguinte. Falta tempo até de pensar em esbarrar num amor bandido pelas esquinas dos corações esquecidos.

E é pensando assim que Eber vive há mais de oito anos. De casa para o trabalho, não leva nem três minutos para atravessar a rua e se enfurnar atrás da tela do computador e das planilhas de Excel.

Tem um emprego bacana, bem visado e compensador. Só não conseguiu em todo esse tempo achar um sentido e responder a sí mesmo porque trabalha tanto.

Eber é introspectivo, metódico, metrossexual , articulado e gente fina. Mas se ele é tudo isso junto, porque ainda reclama da solidão?


Os amigos reparam e  preocupam-se. Já tentaram de tudo para ver se Eber se arranja de vez com uma mulher. Facebook, speed dating e até correio elegante das festas juninas que ele frequenta quando visita os pais no interior de S. Paulo.

Já acreditou nos encontros marcados e nas garotas amigas dos amigos da firma. Depositou tempo, dinheiro e confiança nas meninas que viram no seu cargo na empresa uma saída para mudar de vida e sair do aperto. 

Passou em mãos gananciosas o cheque em branco dos seus sentimentos. Perdeu-se amargamente nos labirintos solitários da alma e por isso, limita-se a conhecer gente nova.

Para o moço por enquanto, o acaso serve de desculpa para se meter sem compromisso nos braços de uma donzela. E as percepções do amor perdem solidez quando conhece Catarina.

Tudo o que sabia sobre as mulheres diluiu-se em questão de dias enquanto trocava emails com ela. Pela primeira, e talvez a única, Eber desprendeu-se das referências antigas sobre garotas e percebeu a transparência e segurança da jovem de 28 anos.

Que ela poderia lhe trazer a felicidade sem culpas,  sem cobranças e apontamentos. Esta é a parte lúdica da vida de Eber. Descobriu destraido que podia amar de novo.