quarta-feira, 10 de abril de 2013

Recado atravessado

Ei, garota mais nova e pele mais clara que acabou de tirar o aparelho e sorri infantilmente nas fotos do Facebook da vida. Vai lá e diz para ele que eu, ao contrario de você, fiquei esperando ele ligar naquele sábado a noite e me chamar para uma pizza do fim a qual você com certeza foi no meu lugar.


Quando o encontrá-lo depois do expediente, porque é mais fácil você do que eu que fui trocada por uma faxina em plena sexta, diz para ele que eu gostaria de conhecê-lo melhor assim como você, garota que abusou do batom vermelho e deve ter conhecido antes de mim o que os lábios interessantes do rapaz bom de papo tinham para me falar e me fazer sentir.




Você mesmo, jovem de nome meio esquisito - não sei se Damiana, Deisiane ou Daniela- cabelo tingido e de bom corte, que numa hora dessas já ganhou o espaço de destinatária das mensagens românticas que ele me mandava no meio da tarde. Vai lá e diz para ele que você teve sorte de ter conhecido um rapaz com quase 30, solteiro, sem filhos, e com um carisma surpreendente.

Avisa aquele paulistano de gosto refinado, que usa perfume caro e amadeirado, aquele que nunca mais esqueço o aroma que me fez perder a concentração naquela reunião religiosa que fomos juntos. Fala que a partir daquela noite acreditei que ele estava na minha e que eu estava me dando bem no jogo da conquista, pois marcamos uma corrida no Ibirapuera no domingo pela manhã e deu tudo certo.

Liga para ele e reforça a ideia de que eu sabia que ele não queria me ver naquele feriado, depois de ter dado a desculpa que teria que frequentar a convenção da empresa por quatro dias, lá no interior de Minas. Foi justo no dia que ele mesmo já tinha combinado que faria um trabalho altruísta comigo. Deve ter sido você o evento mais importante daquele fim de semana assim como eu fui no fim do verão. Explica que quando ele começou a frase com a palavra “Então...” eu já saquei que ele não queria ir. Pode acabar falando que naquela altura da relação eu só não tive a humildade de aceitar que eu não era mais prioridade.



Quando ele te levar para o mesmo restaurante que me levou num almoço de outono, comenta que eu já entendi que no dia que ele usou a desculpa do rodízio para não atravessar a cidade para me ver, foi porque te encontraria no metrô e te levaria para uma exposição Cult na av. Paulista, a mesma que eu já tinha visitado com ele antes. Diga que doeu para caramba ter visto você, menina baixinha de aparência meiga, colocar na página principal daquela rede social uma foto meio plano de um casal no parque, simulando que você e ele estão numa boa.

Faz assim, passa lá na casa dele, leva um vinho tinto e conversem sobre a mulher inteligentíssima que sou, porque ainda não morri, a não ser de amor por ele. Deita com ele no sofá, conversem sobre cultura, política e os filhos que talvez você tenha com ele. Não muda de canal no meio jogo do Santos só pra ver a chamada do jornal da Cultura. Ele fica possesso e perde toda a graça. Contorna a situação, faz um cafuné, faz um charminho feminino, mas não esquece de falar que quando o conheci naquela noite, não consegui pregar os olhos para dormir, de tanta felicidade.



Manda um email pelo menos e diz que lá no fundo, eu fico feliz por ele ter te conhecido. Que no momento você tem mais a ver com as fanfarrices dele, quando ele se mostra mais infantil ao lado de uma mulher mais nova e despreocupada como você deve parecer. Ele é gente fina, bem disposto e bem humorado. Você já deve ter percebido.

Espero que dê certo por um tempo, porque dificilmente uma garota vai fissurá-lo como a Mariela, uma ex dele que com certeza não saiu daquele coração. Ah, avisa que quando ele me ligar eu não atenderei porque apaguei o número dele. Mas pode dizer que ainda posso falar com ele via Skype sobre os projetos paralelos da carreira dele. Faz um favor, some o mais rápido possível porque eu vou voltar.

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