quinta-feira, 1 de julho de 2010

O bloco do eu sozinho

Foi um dos dias mais felizes da vida dela. Ele viria de Teresópolis para passar o final de semana numa cidade do interior de Minas Gerais e finalmente, saber quem eram os pais da moça.

Conheceram-se naquele carnaval de 2009, cheio de bêbados pelas ruas estreitas de Além Paraíba. Ele estava de ela. Com batom vermelho, peruca loira, saia curta e um top com duas laranjas. Uma impecável donzela. Já ela estava de macacão, bigode feito de lápis de olho e tentava dar uma coçada bem masculina na região genital.

Estavam apreensivos. Gostariam de encontrar alguém interessante em meio a homens feito mulheres desengonçadas, de maquiagem borrada e gestos extravagantes. Parecia impossível flertar num carnaval de sexo invertido. Mas para Renato, nem as laranjas como seios o impediram do seu objetivo.

Subindo a ladeira que dava para a praça principal, avistou um homem lindo; bigodes grossos, sobrancelhas acentuadas e cabelos longos escondidos dentro de um boné do MST (Movimento Sem Terra). Era Karina, estudante de história da faculdade federal do Estado que descia em busca de um banheiro. A jovem de 23 anos bebeu demais e disse para sua amiga que precisava “dar uma mijada”.







Foi arrastada pela correnteza de gente estarrecida pelo suor do clima carnavalesco mineiro e pelas latas de Itaipava, cerveja de Petrópolis que por coincidência , é cidade vizinha a de Renato. Ele, como um libriano passivo resolveu só observar quem era o "peão de obra" que descia tão depressa e tão loucamente.


Karina e Juliana passaram. Cheiros se encontraram, perfumes se perceberam, como suores também. Mas o consultor de segurança privada atentou-se a essência doce da água de colônia de Karina. Fitou-a nos olhos, mas ela nem se deu conta.


Na volta, aquela “mulher sedutora” estava lá. Pegou nas mãos delicadas do “servente de pedreiro” e descaradamente pediu um beijo. Ela deu, e não foi só isso. Tanto que em outubro oficializaram o namoro, embora ele ainda dizia a sua amiga paulistana que ela era sua “quase namorada”.


Então naquela noite de janeiro abafada depois do toró, Renato levava uma humilde caixa de chocolates derretidos para os pais de Karina e para ela, uma rosa branca. Ele não tinha noção qual era a cor do amor. Se é mesmo que ele tem cor.








Ela estava realizada. Conhecera um rapaz trabalhador, cauteloso e que tinha um nariz que chegava onde a língua às vezes não pode chegar. Ele estava sucintamente satisfeito. A “quase” companheira que se formaria dentro de dois anos vendia produtos de beleza com muito orgulho e já tinha negocio próprio.

Ele a via quinzenalmente, embora a distância entre Além e Terê (como ele abrevia o nome das cidades) fosse de 3horas de viagem.
Ela não queria muito. Talvez se tornar consultora plena a abrir uma franquia na capital, pois acreditava que um álbum de fotos dos produtos no Orkut davam pouca visibilidade mesmo os atualizando a cada 3 semanas.






Renato queria alguém só para esquecer que vive sozinho. Enquanto não estava com Karina, jurava promessas fáceis de casamento à moça pelo msn. Ao mesmo tempo que conversava com ela, dizia que não conseguia esquecer a paulistana que havia conhecido quando foi à São Paulo participar de um workshop de sistemas inteligentes.
Falava para Clara que sentia a falta dela. Ela acreditava. Mesmo sabendo da existência do “quase” amor da vida de Renato




No fundo, a paulistana e gerente de criação publicitária se perguntava: porque ao invés de estudar tanto, não fui vender cosméticos?
Não se conformava como as coisas mais simples que buscava nas pessoas poderiam aparecer de forma descompromissada, sem objetivos faraônicos e pós-graduações completamente cursadas.

Ela sabia que Renato, ao final de todas as noites pensaria primeiro em Karina e quem sabe depois, nela. Continuaria mesmo assim, com a vontade de acreditar na ideia de que ele, como sempre dizia, estava esperando um convite seu para voltar a se verem.

6 comentários:

Unknown disse...

rs....assim que a gente vive....as vezes é as vezes não é!!
As vezes queremos, as vezes corremos!!

Alexandre Miranda!!! disse...

muitooo lindoooo....adoro o que vc escreve!

Adriana Otero disse...

me identifiquei com alguns trechos dessa historia rsrs...
Parabéns ind.
Beijoooos

Carol de Oliveira disse...

Sempre achei que esse futuro como jornalista ja tava certo..eu sabia,sabiia =DD huehue!
Voce escreve muito bem primaa*-*,e continua assim viu,ainda quero ler muito e muitos textos seus e nao só aqui no blog...!
Saudades imensas ...
Te amo
Sucesso sempre
e mais um vez PARABENS!!!

beeijoooo!

Anônimo disse...

A sua pessoa escreve muito bem, e vc também! :D

TCHAN!!!

Andreia Hiromi disse...

Librianos são estranhos msm...