domingo, 26 de junho de 2011

Um olhar que não atravesse

Por que Mariana gostaria da ausência dele? Das ligações não retornadas e das mensagens não respondidas naquele domingo cinza prestes a acabar.
Na cama, procurava sintonizar a programação da TV com algo que tivesse a ver com o seu coração. É como se diferentemente de todos os outros relacionamentos semi-completos que tivera, ela dessa vez optasse por se entregar aos clichês de uma vida a dois.

Vestiu a blusa "gola v"- aquela que demarcava muito bem seu colo de pele clara e delicada-, colocou o pingente dado pelo ex, combinou a cor da carteira de mão com o peep-toe rosachá e prendeu os cabelos de uma forma que fizesse alguém descobrir se ela estava séria ou insinuando desejo por meio do olhar.

Ao sair pela Alameda tomou para si uma dose de coragem pra chegar ao seu destino que, segundo ela, eram as mãos macias de Renan. Seus passos bem sincronizados transmitiam uma segurança ao mesmo tempo precoce, e despertava a libido dos mais providos de testosterona por onde passava.

Mariana estava na catraca ouvindo "Iris" a espera do rapaz que um dia a prometeu uma viagem à Alemanha para que ela o ensinasse a falar o idioma daquele país. Sonhava com os filhos que provavelmente não teria ao lado dele, pois, como o acredita ser, não cria raízes em nenhum deleite feminino.

Uma hora se passou até que as bolhas de seus pés sufocados de decepção pediram à Mariana que mais uma vez pensasse melhor antes de sentir afeto por um mero desconhecido.

Naquele começo de noite, a moça dos cabelos longos, castanhos e claros, só conseguiu ganhar olhares atravessados de tesão pelo seu corpo quase intocável. Deixou para trás, ali na catraca do metrô, o ponto de partida para adormecer o âmago e despertar o ceticismo da alma.

Um comentário:

Adriana Otero disse...

Já tentei fazer o que essa Mariana planejou, mas nem cheguei perto do que aconteceu com ela huauahua. Ela deveria estar feliz.
Brincadeira.
Mais uma vez parabéns Ind!