quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Um barco e dois destinos

Certa vez, quando o tempo frio e seco envolvia drasticamente a epiderme de Juliana- que ia da zona sudeste para a zona leste de São Paulo- uma indagação resistia a acompanhá-la durante o curso de inverno. Apesar do seu próprio espelho em que se tornara Edgar, gostaria ele de ao termino daquele intensivo, compartilhar dos mesmos caminhos dela?
Antes que começassem a pensar a respeito, os desejos ardentes que se ascendiam diariamente tomavam a cena que deveria ser da consciência mútua. A compatibilidade de genes, comportamento, perfumes e numero do sapato, eram os fatores que uniam ainda mais aquele casal de escorpianos.

Entre a aula de gestão de negócios e engenharia de processos, aproveitavam o intervalo para passearem pelo parque que ficava à frente do prédio. Ali raiava, assim como o sol entre as arvores do bosque, o sorriso de Juliana ao observar os olhos apaixonados daquele magrelo.

Edgar não era bonito como a mãe dela gostaria que fosse. Não era alto nem tinha uma boa quantia em poupança. Não acreditava nos mesmos preceitos e concepções sobre a vida, a morte, o casamento e o sexo. Aliás, ele crera no oposto em que Juliana baseava suas escolhas.

Mas nem o pouco dinheiro no bolso, a aparência franzina e o péssimo tabagismo a qual ele contraia e que prejudicava brutalmente a moça, foram suficientes para desanimá-la. Embora a mãe de Juliana não soubesse claramente como se dava esse romance, o ideal era alcançado facilmente entre os dois; meditavam, com olhos fixos um ao outro, para encontrar a sintonia que só a paz de um amor sincero proporcionava.

Ao passo que as folhas do calendário escorriam pelo tempo, a história de Edgar e Juliana parecia já prever um fim a qualquer hora. Sabiam entre si que o que chamavam de compromisso não perduraria a vontade de ela ter filhos e da indisposição dele.

Da benevolência que ele possuía que não seria a mesma por parte daquela que já habitavam a vida dele há 13 anos. Juliana atormentava-se com o fato daquela menina não ver com bons olhos seu pai se aventurar num projeto de “família Doriana”, unidos e felizes no café da manhã de todo do santo dia como se todos os problemas fossem dissolvidos no sabor de uma margarina.

Entre Juliana e Edgar havia manifestações de afeto que por ora, se assemelhavam ao carinho de um pai por uma filha. A mão dele já não mais habitava os quadris largos e a cintura fina dela. Passava agora a entrelaçar-se somente entre os dedos pequenos da namorada como um sinal de sinceridade do que sentia. O beijo na testa dizia que o respeito, naquela altura das aflições da alma, era o artifício de dizer que não mais poderiam escrever as crônicas conjuntas de uma doce época em comum.

E durante as aulas ela metaforizava a vida a dois como se o que vivesse com Edgar fosse um barco, e o que precisavam seguir distintamente, era literalmente, cada um o seu destino. Que mesmo as infinitas afinidades não seriam o bastante para servir de apoio as tomadas de decisões extremas entre si. Que as angustias dela para ele, não passaria de um mero uso de palavras com construções desnecessárias ainda sobre uma realidade sem atemorizações.

Que após desentendimentos bobos, a parcimônia de Edgar não superaria os próximos impasses do mesmo gênero pelo simples motivo de não acreditar que Juliana amadureceria tão rápido.

E subitamente o anseio em cortar laços chegou para ela. Antes que se jogasse numa tempestade eufórica e apaixonante, deu vazão à consciência e pediu à adrenalina que baixasse a bola e a deixasse refletir. Percebeu felizmente que a melhor coisa a fazer era ir e não deixá-lo.

E para Edgar restaram as chamadas não atendidas como sinal de que ela estava em seu próprio lugar, e que não o tinha informado sobre o fim da viagem daquele barco. Desistiu do destino em conjunto e, no porto das novas direções, tomou o primeiro transporte ao amadurecimento tácito de um amor bem aproveitado.

4 comentários:

Moranguinho Max disse...

Miga, adoreiiiiiiii um amor passageiro é melhor do que nunca ter amado... mesmo q esse amor já nasça com os dias contados... rs rs.. continue a escrever assim.. com sentimento, pitadas de ironias,sutis, detalhes, parabéns!!

Adriana Otero disse...

eu deveria ver as coisas assim.
Bjs ind.

Karine Manchini disse...

Incrível como você se supera em cada texto...muito legal...parabeennnsss

Mônica Raouf El Bayeh disse...

Mt bom, Ingrid. Parabéns!