domingo, 18 de abril de 2010

O hétero de chiffon

Ele chegou cedo aquele dia. A marginal Pinheiros, às 6h45 por sorte estava sem lentidão. Alex subiu as escadas às pressas pois tinha reunião logo cedo e precisava imprimir os relatórios que esqueceu no dia seguinte, porque saiu mais cedo para um happy-hour em plena terça-feira. Na saída para o almoço viu Luana do departamento Executivo e elogiou suas botas carmesim que usa por dois anos consecutivos. Disse que ela estava linda. Ele apenas gentilmente agradeceu e pensou: o que faço para ficar com ele? Mas antes de responder foi interrompida pela ligação do ex.
Alex comentou sobre política com o Flávio de exportação, de futebol com o Almeida, mas o que ele gostava na verdade era comentar as exposições de arte sacra da Pinacoteca com o Gabriel do Jurídico.

Na volta pra casa pensou em comprar frutas e cereais para continuar a dieta, mas foi surpreendido quando viu o novo blush da M.A.C, aquele que sua irmã dizia que realçava muito bem as maças do rosto. Ele sabia que tinha compromisso às 10, mas antes passou o tempo na nostalgia do último encontro do fim de semana. Chorou pouco porque não podia ficar com olheiras para apresentação. Exagerou no blush e preferiu o preto básico. Também achou melhor pegar um táxi até a rua dos Ingleses.







Lá encontrou Lucas, o cara que o fez suar naquela kit net do centro. Ele acenou. Alex sorriu, só não fez mais porque as luzes da boate não permitiram uma boa performance além do "bate cabelo". Ele não tinha o telefone de Lucas, o jovem de 20 anos que cheirava a hortelã mesmo que depois do sexo. Também não quis ir atrás. Sentia-se melhor na companhia das doses de Bromazepam.

Às quatro da manhã Alex já estava em casa. Depressivo, com calos nos pés, ao lado dos comprimidos manipulados com anfetamin e do livro de cabeceira " O Monge Executivo". Pensava em mudar de vida, tentar ser hétero, coçar o saco entre os amigos da firma e finalmente transar com Luana. Mas preferiu ir dormir ao som de "Unbreak My Heart" de Toni Breaxton, pensando no Gabriel e qual calça daria certo com a camisa de chiffon.

Um comentário:

Adriana Otero disse...

Muitooooo bom.
Amo suas crônicas sabia?
Somos parecidas em muitas coisas. Mas não escrev tão bem quanto você.
Beijoooooooooooos