domingo, 6 de junho de 2010

Bonequinha de Luxo

Sentada do lado da janela, Gabriela, já com rímel, blush e sombra prata nos olhos pensava nas contas do final do mês. A caminho do trabalho, também no Aeroporto/Miruna, ela evitava olhares com o motorista, o cobrador, ou qualquer pessoa que cruzasse com ela. Deve ser apatia geminiana, pensei. Ou mesmo porque ainda eram seis e quinze da matina. Pelo que eu a observava, a morena não abriria a boca tão cedo a não ser para bocejar.

Tentei me aproximar da jovem. Queria saber sua rotina, seus gostos, seu signo, série de tv que mais gostava. Não tudo de uma vez, claro. Mas mais do que o nome não quis me responder. Gabriela não quis tirar foto e muito menos, continuar aquela conversa. Pensei que renderia uma boa personagem como passageira daquele azulão (o ônibus). Sem sucesso, depois de saber apenas seu nome, fui criando seu estereótipo.

Via uma Gabriela tão forte quanto sua graça. Prestimosa, feminina, mas por azar, era realmente muito antipática. Estava com alguns livros de psicologia. Folheava o caderno com fichamentos sobre o que Freud também não tinha vontade de explicar. Muito menos ela. Preferia tentar ler e ao mesmo tempo escutar o que o Sorriso Maroto poderia dizer para confortar seu coração, que estava sensível depois que o boyzinho do Mackenzie terminou com ela.

Uma típica paulistana nascida na década de 90. Introspectiva, que não pede licença no ônibus lotado, que fala rápido ao telefone, escreve "naum" no msn, prefere feijão ao lado do arroz não por cima, e principalmente, que tem vergonha ao falar da sua vida sexual. É tímida. Sem assunto, mal dormida e que provavelmente pegou o ônibus aquela manhã porque era rodízio do seu New Beatle. Com certeza, não fazia parte daquele mundo.

Um comentário:

Adriana Otero disse...

Uma bonequinha mesmo.Mas assim, pelo que entendi não é uma metida por maldade, mas é uma metida sem querer. Imaginei uma pessoa distraida com seus proprios pensamentos, andando pelas ruas e consequentemente, sem muita conversa.