quarta-feira, 2 de maio de 2012

Congressos da minha vida

A rotina de quem não tem tempo para amar

Não se passam quatro meses sem que Maria Fernanda confirme a participação em workshops de hotelaria e gastronomia. Trabalha com isso. Vive, suplanta e paga as contas com criação de novos pratos e maneiras diferentes de arrumar a cama.





É paulistana nata e atarefada, daquelas que se tem que marcar horário para dar bom dia. Não desgruda dos relatórios de treinamentos e do tablet parcelado no cartão. Gerencia a vida por meio do toque na LCD.

Regra-se na alimentação. Até demais. Elimina mais da metade dos pães e bolos do próprio cardápio. Farinha? Só integral. Não toma leite porque descobriu através pesquisas científicas ultra confiáveis que isso a prejudica em excesso. E ela detesta exageros. Não bebe, não fuma e morre de medo de envelhecer gorda.




Não é estressada. Controla bem o turbilhão de hormônios com os seus amigos de soja; o tofu, o Ades e as carnes. Também tem um bom relacionamento com vegetais orgânicos. Sinceramente não sei como uma pessoa consegue viver feliz sendo tão cúmplice dos chás, frutas orgânicas e quinua.



Leva a filha mais nova ao ballet pela manhã. Frequenta as aulas de fitness antes de chegar ao restaurante vegetariano, outro empreendimento que abriu no centro da cidade depois que o marido saiu de casa. Não se sabe se foi ele que quis ou se ela o colocou para fora. Foi esperta. Antes que pensassem que o mundo dela caiu, iniciou o próprio negócio com a bagatela do divórcio.



De relacionamentos antigos e atuais, Maria Fernanda não cita. As portas se fecham sobre o assunto. Em dois anos nunca ouviram comentários a respeito das carências e desejos femininos.




Às vezes parece que a rotina não pode suportar nenhum segundo para pensar na solidão. Na maioria do tempo, busca esquecer a tristeza com a agenda lotada de problemas irrelevantes. Interessante é perceber que os congressos, palestras e reuniões que frequenta proporcionam a ela uma dádiva; não ter tempo de pensar nos fracassos nem nos amores mal resolvidos.




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